Uma parceria entre a Casa da União Lar Sama e a Tikun Olam

No dia 03 de Outubro participamos juntamente com a Associação beneficente Casa da União Lar Sama de uma ação de entrega de roupas e comida na Aldeia Tekoa Ytu – uma comunidade Indígena que fica localizada na região do Jaraguá dentro de um complexo de 6 Aldeias: Tekoa Ytu, Tekoa Pyau, Tekoa Itakupe, Tekoa Yvy Porã, Tekoa Ita Endy, Tekoa Ita Vera.

A Associação Casa da União Lar Sama tem como missão:

“Ser uma organização sustentável, promotora de ações destinadas ao desenvolvimento da comunidade nas áreas de assistência social, educação, saúde e cultura, visando à contribuição para um mundo Fraterno, Ético e de Paz.”

Uma Ong que está há mais de 35 anos engajando pessoas com o intuito de atender as necessidades básicas de pessoas em situação de vulnerabilidade e que já vem construindo uma linda história com o Território Indigena do Jaraguá do Estado de São Paulo

Lideranças Indígenas, Equipe Lar Sama e Tikun Olam

Na Aldeia Tekoa Ytu moram aproximadamente 800 indígenas e que dividem um espaço com menos de dois hectares. A Tikun Olam foi muito afortunada em fazer parte desse encontro. Ao chegar no local, a equipe foi recebida por muitas crianças cheias de energia e sorrisos largos. A Liderança e Coordenador da Comissão Guarani Yvyrupa da Aldeia logo se apresentou para nos saudar. Seu nome, Michael Tupã Popygua. Naquele dia éramos um total de 15 pessoas, entre voluntários e dirigentes do Lar Sama e da Tikun Olam.

O encontro se deu dentro da casa de rezas que, para a cultura Guarani, tem um valor extraordinário. É na casa de rezas que todas as cerimônias e rituais acontecem, lá é um lugar sagrado, construído a partir de troncos de árvores e argila, que guarda uma atmosfera acolhedora combinada ao aroma do Petyngua – o cachimbo Guarani.

Quem quebrou o silêncio que a casa de reza proporciona foi a liderança Michael, uma pessoa com um ar sereno, que possui um par de olhos verdes únicos, um piercing na sobrancelha direita e que traz muita verdade e luta em suas palavras. Michael nos disse sobre a importância da preservação das florestas nativas de nosso país e como a ação contínua de degradação da natureza feita pelo homem branco está conectada com o desequilíbrio do nosso Planeta e consequentemente, no agravamento da crise climática. Michael também comentou que o clima abafado e cinza daquele Domingo de Outubro, para a cultura Guarani, era um presságio de que algo desagradável estava por vir.

Marcelo Schaponik – Michael Tupã Popygua – Natasha Shprecher

Além do Michael, tivemos a brilhante presença de um jovem guerreiro, chamado Anthony Karai. Karai é visto como uma liderança, professor e educador Indígena, um homem nos seus 22 anos,  formado em advocacia e que carrega nas costas o dever de se envolver diretamente na luta a favor da causa indígena. Anthony viaja pelo mundo debatendo, levando a voz Guarani e apresentando todas as condições que os Indígenas Guaranis estão vivendo no Território Brasileiro. Articulador para reiterar as leis de demarcações de terra de seu povo, este jovem líder vem travando uma batalha árdua e duradoura com as autoridades brasileiras.

Crianças dentro da casa de reza

Com uma fala assertiva e uma natureza didática, Anthony debruçou em seus conhecimentos e deu uma aula para nós, juruás (pessoas não indígenas). Disse também que todas as pessoas familiarizadas com a língua portuguesa já falam Guarani, que são muitas as palavras extraídas do idioma Tupi-Guarani inseridas em nossa língua e que o número de indivíduos que desconhecem essa informação, é gigantesco. Alguns exemplos de palavras Guaranis: Ibirapuera, Anhanguera, abacaxi, mandioca.

Anthony nos contou que a língua Tupi-Guarani é originária da junção dos idiomas Tupi e do Guarani, que na época da colonização pelos Portugueses eram conhecidos como duas etnias distintas. Durante este período, os Tupis e os Guaranis enxergaram na união de seus povos a chance de fortalecimento e como resultado, abrir caminho para a sobrevivência em meio a um cenário desfavorável. E dessa forma nascia a língua Tupi-Guarani, um fruto da resistência indígena. Outro aprendizado muito importante que o Karai nos trouxe é o conceito da palavra “Índio” para designar os indígenas da América. Ao desembarcar no Brasil, achando que tinham chegado às Índias, os portugueses designaram o povo local como Índios. Além de hoje em dia ter uma conotação pejorativa, era uma forma dos colonizadores reduzirem a diversidade de etnias que habitavam o território Brasileiro na época da invasão. Atualmente a palavra correta a ser usada é indígena.

Toda a experiência de fazer parte desse encontro colaborou para termos uma maior compreensão de quais são as dores e conquistas da luta Guarani. Nós, juruás da Tikun Olam, gostaríamos de contribuir com o movimento e para ter certeza de como fazer isso, é necessário investigar as condições através da escuta ativa, ouvindo a história do povo Guarani e suas necessidades. Atualmente, os Guaranis da Tekoa Ytu, assim como em muitas outras aldeias pelo território brasileiro, passam dificuldades. Muitas delas convivem com a falta de acesso a recursos básicos como saneamento básico e água limpa, e a venda de artesanatos, uma das fontes de renda deles, não é suficiente para desfrutar de uma vida próspera e autônoma. Por conta disso, muitos dos membros da Tekoa Ytu decidiram entrar no mercado de trabalho para conquistar bens que julgam necessários.

Casa de reza

Visão do Pico do Jaraguá

Por fim, a Associação Tikun Olam visitou, de coração aberto e ouvidos atentos, a Tekoa Ytu para que pudéssemos de fato compreender as reais necessidades dos moradores da Aldeia e através de nossas ações voltadas à educação, atender suas necessidades e ajudar a divulgar sua luta e talentos internos.

No local nota-se a necessidade gritante de todo tipo de assistência, de moradia adequada, de saneamento básico, de vestimenta própria para aquecer e calçar a população, de alimentos e de materiais para que a escola construída na região possa continuar passando conhecimento aos que lá habitam. Porém a vida é sempre rara e bela, e ao nos depararmos com os sorrisos das crianças, uma apelo forte nasce em nossos corações, a vontade de aderir a essa luta guarani e de outras etnias, por preservação de uma cultura a beira de ser esquecida e deletada da face da terra, mas com essa remoção, surge também o risco de continuarmos perdendo nossas reservas de florestas e agravando a crise climática. Concluímos portanto que, esse povo milenar precisa continuar tendo seu espaço preservado para que suas tradições continuem florescendo e nesse processo de compartilhamento de conhecimento, florestas possam ser salvas, juntamente com a humanidade.

Para mais informações: https://larsama.org.br/