Cultivar o compartilhamento de saberes ancestrais

Tikun Olam - cultivar o compartilhamento de saberes ancestrais

Quando ouvimos a palavra ancestralidade, quais sentimentos são despertados em nós? O que aprendemos até aqui, e quais saberes podemos compartilhar com nossas crianças?

Os primeiros registros sobre ancestralidade se encontram em continente africano. Os adinkras, simbologia preservada pelo povo oriundo de Gana, na África Ocidental, nos traz o Sankofa, que tem como tradução “Retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro.” Assim eles trazem consigo a relação com seus ancestrais e como eles escolheram compartilhar tais informações. São essas referências que nos fazem ser quem somos, quais os caminhos que já nos pertencem por terem sido acessados por quem esteve aqui antes e como podemos nos relacionar com nossas crianças enquanto suas ancestrais. 

Já no Brasil, quem mantém essa prática são os Mestres Griôs. Conforme o projeto de lei Nº 1.176/2011, Mestre Griô tradicional do Brasil “é o indivíduo que se reconhece e é reconhecido pela sua própria comunidade como representante e herdeiro dos saberes e fazeres da cultura tradicional de transmissão oral e que, através da oralidade, da corporeidade e da vivência, dialoga, aprende, ensina e torna-se a memória viva e afetiva da dessa cultura, transmitindo saberes e fazeres de geração em geração, garantindo a ancestralidade e a identidade do seu povo.” Uma prática que, além de transmitir afeto entre gerações, historicamente se tornou uma grande ferramenta de luta e resistência. Há aldeias indígenas onde as crianças, até uma determinada idade, são mantidas com acesso restrito à língua portuguesa, uma  das formas que estes mestres encontraram de fazer com que a cultura jamais seja esquecida.

Refletir sobre nossos caminhos nos faz perceber que há um lugar, muito além dos registros que encontramos em livros, que é acessado toda vez que sentamos com nosso avós para ouvir histórias, quando aprendemos a cozinhar com eles, ou até mesmo quando eles nos trazem o conhecimento sobre o poder medicinal das ervas e resgatando nossa relação com o meio ambiente. Mesmo não sabendo exatamente onde e quando, estas práticas fazem sentido para nossas vivências, permitindo que tudo que eles aprenderam com seus avós estejam presentes em nosso cotidiano e nos ajude a reconstruir nossa humanidade. 

Refletindo sobre como nossa ancestralidade é mantida ao longo da história vemos que, por mais que sejamos atravessados por diversas culturas, em nossa essência sabemos de onde viemos e quais caminhos podemos alcançar, são elementos que se mantém guardados e que, se nos permitirmos enxergar com nossa alma, temos livre acesso para transmitir o que nos mantém vivos.

Texto por Mayre Oliveira